vendredi 2 juillet 2021

aiguille

 

Marcel Duchamp, oui, et de plus en plus.

Mais - que cela soit bien entendu ! - ce n'est pas le Duchamp d'une racaille qui se contente de se donner des miroirs d'or.

 

mercredi 13 août 2008

Clòris

Ele? Não, ela! (rsrsrs) O bêbê é uma gatinha. O veterinàrio nos confirmou seu sexo ontem.
Dei-lhe um nome mitològico: Clòris, a ninfa amada por Zéfiro, que lhe deu o reino das flores. Botticelli a representou na sua célebre "Primavera"; é a figura que aparece à direita do quadro, acompanhada por Zéfiro. Flores lh'escapam da boca e sua roupa é toda em transparências finìssimas.
Mas essa coisinha fofa é uma primavera na alma. È muito difìcil mesmo ver juvenìssimas formas de vida e não se sentir comovido com esse frescor no porte, nas atitudes, nos humores. E gatinhos são particularmente notàveis por sua graça e sua destreza. Como crianças pequenas eles possuem uma capacidade de observação que vai se perdendo com o tempo, mas que nessa primeira etapa da vida é duma finura surpreendente. O mìnimo ruìdo, uma formiguinha, a palha que o vento sopra... tudo é motivo de festa e jogo. Clòris não pàra. E, com ela, tampouco a casa!

vendredi 8 août 2008

um tanto papai também...

Hà formas de paternidade um tanto atìpicas, e contudo não menos vàlidas.

Essa criaturinha chegou como um milagre em minhas mãos. De sua mãe não havia sinal algum. Ele e seus três irmãos foram encontrados numa cabana de carneiros. Estavam magérrimos, bebiam uma àgua pùtrida e escaparam por pouco de morrerem pisados pelas ovelhas. Crianças os resgataram e se ocuparam, ainda que um tanto desajeitadamente, de limpà-los e alimentà-los. Meu "bebê" foi o ùltimo a vir, e ainda ao fim do dia jà estava em
nostr'Ostal. Precisei de um dia inteiro e muita paciência pra acalmà-lo, vencer seu medo e - que felicidade, meu Deus! - ser adotado por ele.

Agora ele adora dormir em meus braços ou em minha cama, agasalhado nas dobras de meu pulôver de lã. Em três dias seu peso aumentou consideravelmente e, quando não dorme (pois um gatinho chega a dormir vinte horas por dia), ele não pàra (afinal é preciso fazer exercìcios e aguçar os instintos que Deus lhe deu, né?). O papai aqui de vez em quando passa um olho pra ver se tudo vai bem, e quando o bebê se cansa vem colocar-se junto aos meus pés e faz um miadinho irresitìvel pedindo pra ser carregado e ninado.

Pois é, fiquei gagà!



lundi 21 avril 2008

Cy Twombly: sem tìtulo, 1953

O ritualismo de Cy Twombly merece atenção. O modo como ele isola e repete seus signos não deixa dúvidas quanto a isso. Suas extensões de espaço, seus vazios apenas marcados por grafismos de fatura arcaica são solenes apesar da leveza excepcional de sua mão. Quando esculpe, Twombly faz totens ou objetos sagrados. Evoca continuamente o antigo e o remoto não apenas pelos títulos de suas composições, mas sobretudo pelo aspecto de ruína que procura com texturas ásperas e superfícies carcomidas. Twombly é um nostálgico: fabrica achados arqueológicos em sua oficina, reinventa uma Antigüidade despojada das idealizações classicistas que, desde o Rinascimento, persistem na cultura ocidental. Sua Antigüidade é incontornavelmente rude, primitiva, mas arejada. Twombly é concentrado e despojado; seu rigor introduz o cálculo por trás de cada aparente improvisação. Como os mestres orientais ele controla até as manchas e a tinta que escorre porque pensa ciosamente cada gesto que as deve produzir. Muitas são as obras de Cy Twombly que incorporam notações matemáticas e marcações geométricas, escalas ou progressões ocupando o lugar privilegiado numa dada pintura ou desenho. Seu gesto é bem diferente do de Pollock: Twombly não é instintivo, não descarrega no suporte o fluxo de energia que lhe atravessa o cérebro. É, ao contrário, um aristocrata que medita na distância e controla os instrumentos com os quais registra seu pensamento. Dos artistas de sua geração é seguramente aquele do qual se pode falar duma maniera chiara.

jeudi 29 novembre 2007

perspectiva e proporção . a relação não è tão òbvia quanto parece.

contudo a relação perspectiva e proporção è algo ainda fecundo mesmo depois de quase seis sèculos de repetições e maus-tratos . hà muito a saber . e nada a subestimar na estrutura do visìvel.


mercredi 28 novembre 2007

Dez anos...

hà dez anos . 1997 . enquanto fazìamos o book da Planeta HQ . rabisquei Milorde por là . na época . Dândi . antes de receber seu registro . sua certidão de nascimento

somente dali a três anos este estranhìssimo ocioso encontraria seu derradeiro traçado . mais preciso . muito mais enxuto . quase sem substância

Bàrbara Tèrcia me convencera a experimentar os quadrinhos . gênero que nunca . ou apenas excepcionalmente . m'interessara atè ali . (Ave Bàrbara!) . então impregnado de Baudelaire e alguns decadentistas . (nada mais d'acordo com est'outro fim-de-século que vivìamos) . mas dispondo dum lastro . un héritage . qu'extrapolava largamente aquele perìmetro històrico . cheguei a isso aì . prazer d'escapar da estorinha . da narrativa : eram . e são . aparições e frases esparsas . desenho como caligrafia . paginação despojada

nunca mais olhei uma pàgina virgem do mesmo jeito

Ponta no olho

punta nel occhio . d'Alberto Giacometti . 1932 . querem-na surrealista etc . contudo . resumo de teoria perspectiva com leve distorção para comportar curvas . talvez distorções perifèricas . interseção da pirâmide visiva gravada no retângulo de base . um mìnimo que confirma . estendendo-o . o De prospectiva pingendi de Piero della Francesca

mais do que uma escultura . um aparelho

per esclarzir lo motz


clausclars
ressoa . em òc medieval tudo ressoa . tudo se pronuncia .
clausclars . literalmente : claustro claro

talvez valesse algo comum ao occitano e ao português : clara clausura . clausura clara . som e senso iguais . là e cà . mùsica e sentido

contudo . de simetria e proporção concretas pouco restaria . da arquitetura . nada . nada daquela porção de espaço esquadrada e aberta ao cèu . nada de intervalos graduados filtrando a luz até o instante de cruzar uma porta ou sumir num corredor . nada do arbusto esquàlido ou do cacto no vaso de cerâmica quebrado encostado num banco de pedra no centro do pàtio

logo . clausclars . que se diz . ademais . num sopro


mardi 27 novembre 2007

Rars

Não m'acostumo com os nèscios. O Louvre cheio de turistas. Nada de novo sob o cèu de nosso tempo. Turistas, id est, estes que retornam ao jà visto pra não vê-lo. Justo ali, onde o visível è presença, não uma notìcia longìnqua. Turistas são pupilas retraìdas a fundo. Aglomeração-clichê: japoneses ante Mona Lisa. Cegos a todo o resto. Cegos também ao ìdolo, fotògrafos autistas, fotografia como obstàculo à vista, obliteração do visìvel ante a màxima visibilidade, subtração da visão. Leonardo subtraìdo a seus princìpios, em suma.

Eu a alguns metros. Ainda os nèscios à minha volta. Deslumbrados na cegueira, passam como postes numa rua. Headphones pros resumos, presumem inalar a essência num halo postiço.

Eu a alguns metros. Os nèscios à parte. Os grandes sobre os muros, eu atento ao luzir da grandeza: um Giotto cèlebre e pouco visto, algo excepcionalmente fino vindo dum giottesco logo adiante. Algum curioso aì se detèm. Outro alèm de mim. Solitàrios.

C'è un ortodoxo. E vem a mim. Iconògrafo, hagiògrafo etc. Tudo isso. Mais do que tudo isso e um pouco menos. Miúdo. Saùda-me, discretamente sorridente. Porto meu hàbito, um exotismo, uma excentricidade numa França laicista e anticlerical. Eis a razão. Raro um religioso ali. Rarìssimo um religioso em seu hàbito. Est'avis rara ali: eu. Olhos nos muros. Não um lustro, mas luzes qu' estimamos, ele e eu. O ortodoxo, o romeno me diz de seu ofìcio: pictor. Sim, ele também: pintor. E è grato por nos falarmos. Sou grato por essas palavras trocadas a alguns passos dos sienenses.

Uma das Battaglie di San Romano de Paolo Uccello, esta da foto qui (c.1456), num canto pouco propìcio, discreta em sua grandeza. Tanta geometria, tanta mesura, tanta ciência. Cor mìnima e sabiamente disposta no plano. Antes intarsiatura que pintura. Releio-a ainda. Ei-la ainda - e sempre - a ser lida. Relendo-a avanço um pouco, algum saber me vem de suas peças e engrenagens, seus cinzas e rubros òxidos-de-ferro e brancos e marrons terrosos e negros em oposição. Cromatismo àulico, arte àulica, pelos brasões sobre os panos e pelas retas das lanças tanto quanto pelo recorte nìtido. Rigor do desenho, aquela mão firme e obstinada. Minha vista lavada em Uccello. Provavelmente mais àrida dopo. Il vecchio prospettico como correção e estìmulo. Uccello sabia mais do que supomos. Não quis a ilusão, não quer iludir, desdenha o ilusionismo porque prefere a theoria. Precisa de coordenadas espaciais mais do que de figuras, qu'entretanto abundam, retalham o plano. São funções do plano. Uccello è tão claro qu'escapa ao tempo. Também a visão requer ascese.